O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurodesenvolvimental comum que afeta inúmeras crianças e adolescentes em todo o mundo. É uma condição que toca o coração de muitos, pois pode impactar significativamente a vida de uma criança e suas famílias. Mas você sabia que pode haver uma conexão entre o TDAH e o sistema imunológico?
O Sistema Imunológico: O Guardião Silencioso da Nossa Saúde
O sistema imunológico é uma maravilha da natureza, uma rede complexa de células, tecidos e órgãos que trabalham juntos para proteger nosso corpo contra invasores prejudiciais. Ele é o nosso guardião silencioso, a linha de defesa que nos mantém saudáveis e fortes.
Imagine o sistema imunológico como um exército, sempre vigilante, sempre pronto para combater os germes e vírus que tentam invadir nosso corpo. Ele é composto por uma variedade de “soldados”, cada um com uma função específica. Alguns, como os glóbulos brancos, são a primeira linha de defesa, prontos para atacar qualquer invasor. Outros, como os linfócitos, têm a tarefa de “lembrar” invasores passados, permitindo que o corpo responda rapidamente a infecções futuras.
O sistema imunológico é especialmente importante para as crianças pois à medida que crescem e exploram o mundo, são constantemente expostas a novos germes e vírus. Ele ajuda a protegê-las desses invasores, permitindo que se desenvolvam em um ambiente seguro.
Mas o sistema imunológico não é apenas um protetor. Ele também é um professor. Cada encontro com um germe ou vírus é uma oportunidade de aprendizado, uma chance para o sistema imunológico “aprender” sobre esse invasor e como combatê-lo. Este processo de aprendizado é crucial para o desenvolvimento de um sistema imunológico forte e resiliente.
No entanto, para algumas crianças, como aquelas com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), o sistema imunológico pode funcionar de maneira diferente. Pesquisas recentes sugerem que o TDAH pode estar associado a alterações no sistema imunológico, levando a uma maior suscetibilidade a infecções e possivelmente a doenças autoimunes.
Essas descobertas são emocionantes, pois abrem novas possibilidades para o tratamento do TDAH. Mas também são um lembrete da importância do sistema imunológico e do papel crucial que ele desempenha na nossa saúde e bem-estar.
TDAH e Alterações Imunológicas
A maioria dos principais distúrbios psiquiátricos, incluindo esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão, foram de alguma forma ligados ao sistema imunológico. O TDAH também tem sido associado a alterações imunológicas.
Um estudo publicado na revista European Child and Adolescent Psychiatry, investigou uma série de marcadores imunológicos em um grupo de crianças com TDAH em comparação com controles saudáveis.
Os pesquisadores descobriram que as crianças com TDAH apresentavam níveis elevados de marcadores de dano oxidativo, uma indicação de estresse oxidativo crônico. O estresse oxidativo é um desequilíbrio entre a produção de radicais livres, que são moléculas instáveis capazes de danificar células, e a capacidade do corpo de neutralizá-los ou reparar o dano resultante. Este estado de estresse oxidativo crônico, sugerem os autores, pode levar à disfunção imunológica.
A disfunção imunológica, por sua vez, pode resultar em níveis elevados de IgE, um tipo de anticorpo que o corpo produz em resposta a alérgenos. Esta descoberta pode ajudar a explicar a conexão observada entre o TDAH e as alergias. De fato, há evidências robustas de que o TDAH está associado à alergia; indivíduos com doença atópica têm uma chance 30-50% maior de desenvolver TDAH.
O estudo representa um passo importante na compreensão da complexa relação entre o TDAH e o sistema imunológico. Ao identificar o estresse oxidativo crônico e a disfunção imunológica como possíveis fatores contribuintes para o TDAH, os pesquisadores abriram novas vias para a investigação e o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para esta condição. No entanto, ainda há muito a ser aprendido sobre a interação entre o TDAH e o sistema imunológico, e mais pesquisas são necessárias para confirmar e expandir essas descobertas iniciais.
TDAH e Infecções
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurodesenvolvimental que afeta uma parcela significativa da população infantil, persistindo muitas vezes até a idade adulta. Recentemente, pesquisadores têm voltado sua atenção para a possível relação entre o TDAH e o sistema imunológico, uma conexão que poderia lançar uma nova luz sobre a compreensão e o tratamento dessa condição.
Em uma conferência virtual de 2022 da American Professional Society of ADHD and Related Disorders (APSARD), pesquisadores do Geha Mental Health Center, Mount Sinai e Cambridge Health Alliance apresentaram suas descobertas sobre as conexões entre o TDAH e doenças infecciosas infantis.
Os pesquisadores discutiram a relação do TDAH com a imunidade inata e adaptativa entre crianças e adolescentes com TDAH. Eles resumiram os principais marcadores e processos do sistema imunológico e os proxies genéticos que demonstram como o sistema imunológico e o sistema nervoso se regulam mutuamente.
Um estudo de caso controlado baseado na população examinou as taxas de doença infecciosa em crianças e adolescentes com TDAH em comparação com um grupo de controle não-TDAH com demografia semelhante. Os resultados mostraram que as taxas para todas as 3 categorias de exposição eram significativamente mais altas nos pacientes com TDAH do que no grupo de controle. Isso significa que crianças e adolescentes com TDAH experimentam ocorrências mais altas de doenças infecciosas infantis, recebem mais prescrições de medicamentos anti-infecciosos e têm mais visitas a médicos e outros especialistas médicos, sugerindo uma clara conexão entre o TDAH e doenças infecciosas infantis.
Em outro estudo conduzido na Turquia, crianças com TDAH apresentaram positividade significativamente maior para o Measles IgG, um tipo de anticorpo que o sistema imunológico produz em resposta a uma infecção por sarampo. Curiosamente, isso era especialmente verdadeiro onde a hiperatividade motora fazia parte do quadro. Isso sugere que agentes virais, especialmente aqueles que envolvem o cerebelo (uma parte do cérebro que desempenha um papel crucial no controle motor), podem desempenhar um papel na hiperatividade motora em crianças e adolescentes com TDAH.
Essas descobertas indicam que as crianças com TDAH podem ser mais suscetíveis a infecções e que essas infecções podem, por sua vez, desempenhar um papel na manifestação do TDAH. Isso sugere que a prevenção e o tratamento eficazes das infecções podem ser uma parte importante do manejo do TDAH.
TDAH e Doenças Autoimunes
A complexidade do TDAH é acentuada quando consideramos as múltiplas interações que ele tem com outros aspectos da saúde humana. Uma dessas interações, que tem atraído a atenção dos pesquisadores, é a conexão entre o TDAH e as doenças autoimunes.
Um estudo do Registro Nacional de Hospitais da Dinamarca trouxe à luz uma associação notável entre o TDAH e certas doenças autoimunes. As doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico do corpo, que normalmente protege contra infecções e doenças, erroneamente ataca as células saudáveis do corpo. Este estudo revelou que a associação do TDAH com doença autoimune no indivíduo era mais notável em relação à artrite juvenil, diabetes tipo 1 e tireoidite autoimune.
Ainda mais comovente é a descoberta de que condições autoimunes maternas, como diabetes tipo 1 e espondilite anquilosante, estavam associadas ao TDAH na prole. Esta descoberta sugere que a saúde da mãe pode ter um impacto profundo na saúde neurológica de seus filhos.
Essas descobertas são emocionalmente carregadas, pois apontam para uma interação complexa entre o sistema imunológico e o sistema nervoso. Elas também destacam a importância de um cuidado de saúde holístico, como a medicina Integrativa e a Homeopatia, que consideram não apenas os sintomas individuais, mas também as interações entre diferentes aspectos da saúde.
Essas descobertas também trazem esperança. Elas abrem novas vias para a pesquisa e o tratamento do TDAH, sugerindo que o manejo eficaz das doenças autoimunes pode ser uma parte importante do manejo do TDAH. Além disso, elas destacam a importância de um cuidado pré-natal adequado e de um cuidado de saúde materno contínuo para a saúde neurológica das crianças.
Implicações Terapêuticas: Uma Luz de Esperança no Tratamento do TDAH
As implicações terapêuticas que emergem do estudo das interações entre o TDAH e o sistema imunológico trazem uma luz de esperança para aqueles que vivem com essa condição.
A descoberta de que o TDAH pode estar associado a alterações imunológicas e a doenças autoimunes abre novas possibilidades para o tratamento. Uma dessas possibilidades é o aumento dos níveis de vitamina D. A vitamina D tem efeitos protetores contra a inflamação e o estresse oxidativo, e os níveis desta vitamina são, em média, mais baixos em crianças com TDAH do que em crianças saudáveis. Aumentar os níveis de vitamina D pode, portanto, ser uma estratégia eficaz para o manejo do TDAH.
Outra possibilidade terapêutica é a eliminação de componentes alimentares que podem desencadear reações físicas adversas, como alergias. Muitas crianças com TDAH também sofrem de alergias, e a eliminação de alérgenos alimentares pode ajudar a aliviar os sintomas de ambas as condições.
Essas descobertas são emocionalmente carregadas, pois apontam para novas possibilidades de tratamento que podem melhorar a qualidade de vida das crianças com TDAH. Elas trazem esperança para as famílias que lutam diariamente para ajudar seus filhos a lidar com os desafios do TDAH.
Conclusão
As descobertas recentes sobre a conexão entre o TDAH e o sistema imunológico abrem novos horizontes para a compreensão e o tratamento dessa condição.
A descoberta de que o TDAH pode estar associado a alterações imunológicas, infecções e doenças autoimunes traz uma nova perspectiva sobre a complexidade dessa condição. Essas descobertas não apenas aumentam nossa compreensão do TDAH, mas também abrem novas possibilidades para o tratamento.
No entanto, ainda há muito a ser aprendido sobre a interação entre o TDAH e o sistema imunológico, e mais pesquisas são necessárias para confirmar e expandir essas descobertas iniciais.
A medicina integrativa e a homeopatia surgem como um caminho de esperança para melhorar a imunidade em crianças com TDAH. Essas abordagens oferecem um tratamento mais holístico e individualizado, que não apenas alivia os sintomas, mas também melhora a saúde e o bem-estar geral da criança.
Cada nova descoberta, cada novo caminho de tratamento, nos traz um passo mais perto de uma compreensão mais completa do TDAH e de tratamentos mais eficazes para aqueles que vivem com essa condição.
A jornada para entender e tratar o TDAH pode ser desafiadora, mas cada passo à frente traz uma nova esperança. Para as crianças com TDAH e suas famílias, essa esperança é um farol de luz, guiando-os através dos desafios e iluminando o caminho para um futuro mais saudável e feliz.
Dra. Luciana Procópio de Toledo Bueno – Pediatra
CRM -MG 86958
RQE: 50492